O Gato e a Porta Blindada
A minha sorte é que nós os gatos temos muitas vidas, com a vida que eu levo as companhias de seguros quase que se recusam a me fazer um seguro de saúde…
Desde pequenino que eu sou um gato muito tímido, talvez porque foi afastado da minha mãe e dos meus irmão muito cedo (tinha duas semanas), talvez porque nunca convivi com outros gatos, apenas outros cães. Aliás, ainda hoje tenho um complexo de identidade, não sei bem se sou gato, se sou cão. Se o meu dono me ralha, faço logo como o cão, deito-me e viro a barriga para cima e olho para o lado… em compensação o cão tens desvairos felinos, como seja molhar as patas da frente e usa-las para limpar o focinho… enfim animalisses.
Mas estou-me a desviar do assunto. Dizia eu, que sempre fui muito tímido e carente, houve uma vez que o meu dono teve de ir para fora numa sexta-feira e só voltava no sábado à noitinha e tinha receio de me deixar sozinho (isto porque eu era ainda muito pequenino para fazer viagens) mas por sorte um amigo dele ia ficar lá em casa esse fim-de-semana, por isso ele deixou-me muita comida na sexta (fiz um banquete) e pediu ao amigo para tomar conta de mim quando chegasse na sexta. Pois é, o tempo passou e finalmente chegou o Sábado pela noitinha, quando o meu dono entrou o amigo perguntou-lhe porque é que ele tinha afinal levado o gato, meu dono ficou logo muito espantado e assustado pois ele tinha deixado o gato em casa, mas o amigo tinha ficado o sábado todo em casa e não me viu nem ouviu! O meu dono desatou logo a chamar-me muito preocupado, assim que ouvi a sua voz fiquei logo mais descansado e sai do meu esconderijo, afinal eu também já estava cansado pois tinha ficado escondido DENTRO do cadeirão todo o sábado!
Mas, mais uma vez fujo ao assunto, eu estou aqui para falar da porta blindada e porque é que eu tenho uma relação íntima com ela. A minha casa (ou do meu dono, enfim é tudo o mesmo) tem uma porta de entrada do estilo blindado, daquelas pesadas, sabem como é. Mas agora estou me adiantar, vamos antes falar do cão. Nós cá em casa já sabemos reconhecer o ruído do elevador e dependendo das horas sabemos se é o dono que está a chegar ou não. O cão sempre teve o hábito de ir esperar o dono à porta, como sempre a abanar aquele toco ridículo que ele chama de cauda (deve ser por inveja que ele anda sempre a morder a minha), mas eu não sou desses, espero sentado no sofá que o meu dono me venha dar uma festa, coisa que nunca acontecia pois o palerma do meu dono acha que se eu quero festas devo ir ter com ele… houve um certo dia que eu achei que já era demais e que eu tinha direito a receber festas tal como o cão. Assim, nesse dia eu decidi juntar-me ao cão a receber o meu dono quando ele chegasse a casa, desgraça a minha… nesse dia o meu dono vinha muito chateado com o trabalho, saiu do elevador a resmungar e a chamar nomes. Sabem, ele é um gajo do Porto e de vez em quando muda para um dialecto muito usado nas vielas mais escuras da Invicta cidade, seja como for, ele entra em casa meio ao berros e nem nota que o cão e eu estávamos ali à sua espera, cheio de fúria fecha a porta com toda a força (lembram-se de eu ter falado nesta porta? A tal que é blindada e PESADA!?), o cão que já nem liga quando o meu dono fica de mau humor e foi logo para junto do sofá, mas eu assustado com isto tudo fugi a correr a 7 pés (ou devo dizer patas?), mas com a confusão toda em vez de fugir para a sala, fugi para fora de casa, em direcção a uma porta blindada prestes a executar o seu trabalho de uma forma estrondosa… escusado será dizer que o estrondo da porta foi significativamente reduzido devido à minha intervenção, o ruído final terá sido na mesma grande apenas devido ao facto de o meu dono ter reparado (infelizmente, ¼ de segundo tarde de mais) o trágico encontro que estava prestes a acontecer.
E de repente tudo ficou negro, nada mais me lembro, o que sei a seguir foi porque o cão me contou. Após a porta ter entrado em contacto directo com a minha cabeça fiquei completamente duro, tão duro que o meu dono pensou se não seria um rigor mortis em velocidade de cruzeiro, mas ele achou que eu podia ser salvo, por isso o meu dono reanimou-me como se eu fosse uma pessoa, massagens cardíacas e tudo (não, não fez respiração boca-a-boca, que nojo de pensamento) e passados uns segundos eu abri o olhos, até me assustei de ver a cara do meu dono quase em cima de mim, mas não me conseguia mexer. O meu dono lá esteve durante bastante tempo a tratar de mim e lentamente recuperei completamente os sentidos e tudo parecia estar bem. O meu dono disse-me que aparentemente não tinha nada, mas por vida das dúvidas passou a noite ao meu lado. O que para mim foi uma seca, de cada vez que eu adormecia o meu dono passava-se e acordava-me só para ver se eu estava bem, bolas!
No dia seguinte, logo pela manha, fomos ao veterinário e as radiografias mostram que tudo estava bem. Só passados vários dias é que os efeitos da porta se fizeram sentir. Hoje sou um gato chorão, o meu olho esquerdo está sempre a lacrimejar o que obriga a que o meu dono me faça uma massagem (que eu gosto) para aliviar, enfim podia ter sido pior (eu acho…).
Pois é, foi assim que eu perdi a minha primeira vida… agora da segunda vida, ó cão não me chateies! Já te dei massagens que duram para uma vida inteira! Está quieto e deixa-me contar a história de quando tu me mandaste o tampo da secretária para cima de mim! Acktan larga esse fio de electricidade! Acktan vais desligar este computador! Ack…
1 Comments:
É verdade, é verdade, mas o editor/censura deste Blog (que é nem mais nem menos que o dono desta bicharada toda, ou seja EU! Sim Acktan, eu sei que estou a assinar com o teu nome) não permite a publicação de nomes pessoais, nem de fotografias comprometedoras, como a que o Acktan queira publicar para demonstrar os seus dotes de despertador…
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